14/12/2008

ENSAIO II

Para Lya Luft

É tudo sobre essa linha imaginária, sobre essa barreira invisível. Existe algo que envolve possibilidades, disse ele a ela esperando uma resposta, que fosse corporal, ainda pensou. Ela olhou para os lados bem devagar, olhou para o prato branco sujo e então para ele. Seus olhos, uma verdadeira mistura de curiosidade e compaixão, ansiavam por uma palavra que aliviasse a tensão do momento. Ela sabia que era muito difícil para ele. Então, finalmente propôs que já é hora de deixá-los, não acha?, que é hora de sair de lá e então entre o momento deixava a taça de vinho sobre a mesa e o instante em que ouvia as últimas palavras saírem da boca dela, resolve pegar em suas mãos e dizer bem firme que não adianta deixá-los, que ir pra longe não adianta, porque não existia lugar no mundo que fizesse a distância dele com o problema aumentar. Fez uma pausa e olhou para ela, ainda segurando firme suas mãos. Percebia, enquanto fitava aqueles belos olhos, que uma lágrima deles caia, borrando o lápis e a maquiagem de seu feito rosto. Enquanto passava o dedo enxugando a lágrima, ele terminava sua sentença dizendo que a distância com que ele lida é a distância interna, essa confusão gigante que a cada dia verificava se encontrar. Soltando suas mãos, agora tomando mais um pouco do vinho, ele diz muito obrigado e ela diz que não fez nada e que gostaria muito de ter tentado mais e não ter aborrecido-o e mais uma vez ele a interrompe dizendo que o problema não era com ela e sim com ele. Ela sorri, com uma certa malícia fulminante, com uma leve dissimulação no olhar. Talvez você dê importância demais ao que não mereça, disse ela de uma vez não tirando os olhos dele. E talvez você nunca entenda sobre a questão que batalho no meu íntimo, até mesmo porque ela não é uma coisa simples. A complexidade existe e infelizmente não é fácil explicar, preciso ir, disse já se levantando e deixando o dinheiro da conta, a gente se fala por aí, disse pegando o casaco. Já no carro, dirigindo a esmo naquela noite nublada, abriu os vidros e deixou sentir o vento nos cabelos e se permitiu o fechar aos olhos. Sua pior ação, viria a constatar. Ao abrí-los, nada via além de dois grandes holofotes imensos uma luz amarelada que se tornava branca a silhueta da morte. Tudo o que sentiu foi um pequeno corte na mão direita. Nada mais. E não precisaria mais preocupar-se com barreiras imaginárias ou linhas invisíveis. Afinal, não mais precisaria conviver com possibilidades. Ultrapassara tudo, deixando para trás o lógico e o emocional. Se fora; simples e rápido com os relâmpagos daquela que era uma noite nublada.

[ Let the seasons begin - it rolls right on
Let the seasons begin - take the big king down ]
Elephant Gun - Beirut

28/11/2008

ENTRELINHAS

Escrito em 08/09/2008

Para

Caio Fernando Abreu
Os Beatles, todos

Queria poder pegar todas aquelas idéias-maravilhosas-que-mais-ninguém-teve-mas-eu-tive-e-esvairam-se de volta. Sabe, tenho certeza de que se reúnem em algum lugar secreto, mágico, como os que Jostein Gaarder cria em suas fantasiosas terras peculiares. E não as queria para poder fazer uso delas, apenas para mantê-las juntamente com as demais que consigo prender. Queria poder pegar as palavras mal-ditas, poder pegar os nãos recebidos, os descasos a mim dados e colocar tudo dentro de uma caixa. E deixar lá, num canto qualquer. Queria pegar os sentimentos bons, as alegrias, a euforia, colocar em vidros vazios e dar à Lucy. A Lucy, aquela menina que corre e deixa tantos rastros coloridos, sabe? Ou então ao Jude. Seria interessante doar um pouco do conteúdo desses vidros a esse menino tão quieto. Eu garanto que usufruindo desses sentimentos ele daria vazão a louca folia de cores. Seriam verdes, vermelhos, azuis, amarelos alarajandos amarronzados anilados cores cores azul vermelho para todos os lados para todos os jeitos: toda a eterna desincronia de fontes coloridas: azuis com vermelhos formando o arroxeado o azul com o amarelo formando o esverdeado. E dessa loucura de cores prover aos dois, agora então companheiros, à insanidade. Pegá-los e colocar numa caixa, bem diminutos. Numa insaciável sede por cores e por este megalomaníaco interesse em diamantes. Sabe que uma vez Lucy foi cheirar pó mas a engaram e a venderam pó de vidro? A pobre garota loura de olhos bem azuis cintilantes sangrou quase até a morte. Mas passou. Quero sair deste meu lugar secreto. Quero libertar todas estas idéias que mantive presas por tanto tempo. Presas na minha mente, coitadas. Debatendo-se dias e noites e tardes ensolaradas chuvosas quentes frias gélidas umas às outras, Me deixem sair, grita uma delas, num frenesi louco, QUERO SER REAL, implora outra. Jude e Lucy devem aproveitar seu tempo, pois dele não resta muito. Mas como eu dizia não se pode aprisionar a todos e a tudo o que se tem vontade. A algumas coisas dá-se o que chamam de liberdade, mas é um papo furado tremendo. O que é a liberdade a justiça a democracia a liberdade senão antíteses em suas essências? E todo o assunto que se vê na boca de pessoas que não valem à pena? E quem o que vale a pena? Jude e Lucy vivem cheiram choram chamam chocam, viu só como são ativos?, chulipam chuviscam chovem choram choram. Vejo gotas de Lucy e Jude caírem do céu, o tão famoso céu com diamantes. A psicodelia dá-se então instaurada: gotas de Lucy rosas amarelas azuis verdes vermelhas vermelhas muito vermelho, Jude caindo em forma de anil roxo lilás amarelo amarelo muito amarelo anil azul Jude azulado. Jude in the Sky with Diamonds, Hey Lucy, diz Jude, Hey Jude, ela responde, Lucy in the Sky with Diamonds, ele diz, e ela chora e confunde-se choro com choro e lágrimas com lágrimas e as cores se difundem numa psciodelia muito louca. Quero ir pra casa, quero ir pra casa, diz uma lágrima, uma gota, uma chuva. Lucy está em sua cama, olhando o teto, vê um coração enorme escrito Eu te amo, enquanto Jude está procurando o monstro que ouviu falar debaixo do seu armário. Lucy ama Jude, e ela lembra de ter dito isso várias vezes, várias cores : amarelos azuis vermelhos. Vários amarelos amo, vários azuis eu, vários vermelhos verdes anis te. Muito doce, muito doce. Lucy deixa a casa, a cidade. Lucy deixa Jude.

Jude vê nuances de todas as cores que acompanhava seus passos. Vê nuances entre as várias formas que saia de si mesmo. Vê nuances de seus vários eus azuis amarelos vermelhos. pretos. brancos. marrons. Jude desiste de tudo e se entrega. Hoje trabalha num hotel levando e trazendo malas, subindo, ganhando gorjetas, descendo, ganhando desaforos, humilhações. palavras mal-ditas. descasos. Dia desses foi para sua casa no meio do turno porque recebera um carregamento. From me to you, era só o que estava escrito. Jude percebeu que recebera idéias-maravilhosas-que-mais-ninguém-teve-mas-eu-tive-e-esvairam-se, postais de lugares secretos, mágicos, como os que Jostein Gaarder cria em suas fantasiosas terras peculiares, palavras mal-ditas nãos recebidos descaso: todos implorando por liberdade justiça democracia. paz. Em uns vidros bonitos havia ainda sentimentos bons alegria euforia. Concluira: recebera Lucy de volta.

20/11/2008

Sobre o curta-metragem Bastille

Sem dúvida alguma Isabel Coixet já se mostrou bastante competente na direção de brilhantes filmes, assim como na arte de fazer-nos refletir com suas obras, como nos é acometido em "minha vida sem mim". E foi com toda sua experiência, somada a ajuda dos excelentes atores Miranda Richardson, Sergio Castellitto e Leonor Watling que conseguiu, enfim, dirigir um curta-metragem genial, de aproximadamente 5 minutos, para fazer parte da estrita coletânea "Paris, te Amo". Apresento-lhes Bastille.

Sentado no mesmo restaurante em que se conheceram, nosso pensativo protagonista aguarda pela chegada de sua mulher. Não se tratava de uma comemoração romântica. Precisava, naquele dia, naquele lugar, daqui a alguns minutos, fazer uma confissão que mudaria o rumo de sua vida amorosa. Precisava anunciar a separação. Desejava viver uma vida diferente com a sua amante de longa data, Marie Christine. Uma vida oposta àquela rotineira que sua mulher lhe proporcionava. O velho casaco vermelho que o atraira quando a conhecera se tornara agora um fardo e uma simbologia do constante recomeço e da rotina. As qualidades de outrora viraram defeitos do agora. E tudo isso se convergia em uma única suposta verdade: ele não a amava mais. Enfim, é esta uma confissão que jamais fora revelada. Fora suprida por uma revelação maior e inesperada de sua mulher: a notícia de que ela portava de Leucemia em fase terminal.
Eis aqui o grande conflito da história. O fator externo que fará com que o carretel se desenrole. O que fazer? O que realmente deveria predominar nesta situação, a razão ou o coração? O marido em questão opta sabiamente pelo correto. Corta sua relação paralela com Marie Christine e resolve dedicar todo seu tempo a cuidar da enferma esposa. O que, logo nos leva a pensar que, a partir de então, levaria uma vida completamente infeliz ao lado dela. E é justamente neste ponto que o filme nos contraria e nos surpreende. Fingindo ser um marido feliz e apaixonado é que ele consegue, de fato, se reapaixonar pela sua mulher. Os defeitos de há pouco reviraram qualidades. Mas a essa altura, já era tarde demais. Quando ela morre em seus braços, ele entra em um estado de trauma terrível. O desejo vicioso de poder voltar no tempo o toma conta. Desejava ter aproveitado infinitamente mais da presença da esposa em vida. Mas não podia. Desejava nunca ter que conviver com o remorso de um dia ter tido uma amante e sequer cogitado em separar de sua mulher. Mas não podia. O velho casaco vermelho adquirira uma nova simbologia.
Um turbilhão de reflexões surgem em nossa mente durante este final. Chega a hora de nos colocarmos no lugar das personagens e vivermos o drama dos mesmos. Aliás, ficamos pasmos ao perceber como um curtíssimo filme de cerca de 6 minutos nos é capaz de proporcionar tanta ponderação... E tantas possíveis interpretações e análises psíquicas. Sugere-nos uma análise acerca do desgaste das relações amorosas; Da forma que culpamos o próximo quando o erro ou o defeito está em nós mesmos; Do grande paradigma que é o discurso de que só passamos a dar valor a certa coisa depois que a perdemos. Et cetera.
Eis um curta-metragem digníssimo de elogios, muito bem dirigido por Coixet. Quem ainda não assistiu, recomendo que o veja. Não pense que essa simples descrição ilustra toda magnitude dessa proposta de "curta tese". Pois não, o filme vai muito além disso. As imagens sugestivas são capazes de nos fazer compreender e sentir algo que palavras são insuficientes e vagas demais para descrever. Serão, sem dúvida, seis minutos muito bem aproveitados, com muita lição. Muito longe de 2 horas e meia desperdiçadas.

03/11/2008

A Política Para Thomas Hobbes - Leviatã


O que diz a filosofia sobre política? Não só política, mas sobre qualquer tema, os pensamentos variam de filosófo para filósofo. Uns a frente de seu tempo, outros descordando de um pensamento anterior.
No decorrer da história, o homem busca o convívio em sociedade, sempre havendo líderes.
Para apresentar suas propostas de como seria o Estado ideal, Hobbes primeiramente define o homem na ausência da sociedade. Em sua principal obra, "Leviatã", estão suas idéias políticas, minha fonte bibliográfica.
Hobbes viveu em uma época Absolutista, começou a estudar cedo e se dedicou a tradução de livros e a aulas que dava a filhos de nobres, usufruindo das grandes bibliotecas dessas casas.
Para Hobbes, no estado natural todos os homens são iguais, tendo direito a todas as coisas. Sendo iguais na força (física ou astúcia), os homens desejarão também, as mesmas coisas. Por isso entrarão em guerra. Somos egoístas por natureza. No estado natural a vida está em constante ameaça.
Para haver a paz, é preciso que ocorra um acordo entre as pessoas. Com isso, estaremos saindo do nosso estado de natureza, em que não há convívio social [frisando: o homem não é sociável por natureza], para fazer o acordo, depositando a confiança no próximo, pois, não é garantia de que ele seguirá o acordo.
Que acordo é esse? É o chamado pacto social. As leis naturais (seguir a paz, gratidão, cumprir os pactos, perdão, não ofender o próximo) não tem eficácia, não tem garantia de que vão funcionar porque não há alguém que obrigue a serem cumpridas, e elas devem ser cumpridas por todos.
Para acabar com a insegurança entre os homens e fazer cumprir a lei natural, é fundamental e indispensável a presença de um Estado para garantir a paz civil, defendendo o povo das invasões estrangeiras, das ofensas de uns com os outros, garantindo a segurança e a alimentação.
A única maneira de instituir o Estado é conferir toda a força e poder a um soberano, reduzindo as diversas vontades do povo em uma só. É aí que entra o pacto social, que vai designar o soberano como representante do povo, cada um se reconhecendo como autor de tudo o que o soberano fizer relacionado com a paz e segurança de todos. O povo submete suas decisões à decisão do soberano.
O soberano pode ser uma pessoa ou uma assembléia de pessoas. É representado pelo Grande Leviatã, um monstro bíblico.
O pacto é de cada homem com todos os homens, é entre os cidadãos, não entre o povo e o soberano. O Estado está fora do pacto. O soberano é o Estado.
Com o pacto os cidadãos se privam da liberdade que tinham no estado natural de fazer justiça com as próprias mãos e transferem esse direito/responsabilidade ao Estado.
Essa desigualdade entre povo e soberano será necessária para gerar a paz, sendo que na igualdade havia guerra. No estado natural todos eram iguais na força e agora com o Estado, os cidadãos serão iguais na fraqueza, pois cederam seu poder ao soberano.
O Estado será o garantidor da paz civil, está acima dos homens (súditos).
O soberano poderia se transformar em um ditador e matar todos, por exemplo? Não, pois não é do seu interesse. O soberano precisa do poder do povo, é de seu interesse que o povo esteja em boas condições. E não há o risco de o soberano fazer algo ruim para o povo, porque qualquer coisa que ele fizer será o bem, porque é o que ele quer. O soberano não deve satisfações de seus atos e nem eu terei o direito de contestá-los, pois, compactuei cedendo todo o meu poder a ele.
O que fará com que os homens saiam do estado de natureza, compactuando entre si? O medo! O que leva os homens a se formarem em sociedade não é a boa vontade, mas o medo que cada um tem do outro, o medo de morrer, porque o homem tem um instinto de conservação, ou seja, um instinto de manter sua própria vida acima de todas as coisas [lembrando que na ausência de sociedade e Estado, a vida está em constante ameaça]. Portanto, a busca pela companhia não provém do amor, mas sim para tirar algum proveito do próximo.
O pacto é tácito, pressupõe-se que todos estão de acordo.
Sobre a escolha do soberano, Hobbes não se preocupa. Mas o próximo soberano é o atual soberano quem escolhe.
Temos a impressão de que com o Estado não há liberdade, mas na prática, agora teríamos mais liberdade do que no estado natural, isto é, agora não precisaríamos ter medo dos outros, pois todos somos iguais na fraqueza.
As pessoas teriam o direito de ir contra o pacto, caso as leis o punissem? Sim. Pois quando a pessoa comete um crime, por exemplo, o Estado se volta contra ela, e como temos o instinto de conservação, faremos tudo para salvar a nossa pele.
Hoje em dia, se um criminoso fugir da cadeia, quando ele for recapturado sua pena irá aumentar? Não. Justamente porque temos o instinto de conservação. É normal o criminoso querer fugir, a falha é do Estado que o deixou escapar.
Hobbes é Absolutista? Não! A partir de Maquiavel, o Estado é apresentado de forma a não seguir um direito divino, o que há no Absolutismo. E Hobbes segue a mesma idéia, o Estado segue as exigências do pacto social. Leviatã é representado com uma espada e um cetro/cajado em cada mão, representando o poder militar e religioso, que devem seguir juntos. O soberano decide qual religião todos devem seguir juntos. O soberano decide qual religião todos devem seguir.
Outra diferença entre o Absolutismo e o pensamento de Hobbes, é que ele admite que o soberano possa ser uma aristocracia, embora prefira a monarquia, para não haver muita fragmentação de poder, que gera conflitos.
Hobbes teve que apoiar o rei para que suas idéias não fossem atacadas e tivessem público.
As idéias de Hobbes nunca foram aplicadas, mas assim como o exemplo que citei de no caso de fuga da prisão, a pena continuar de onde parou, há muito a presença dessas idéias hoje.



Agradeço ao Filósofo Professor Euclides, por me dar a melhor ajuda em filosofia que eu poderia ter.

12/10/2008

Estudantes querem voz (II)

Eis aqui uma redação feita por mim para uma avaliação escolar e cuja proposta não me lembro bem, mas girava em torno da questão dos novos movimentos estudantis. E o gênero era obrigatoriamente blog.
Quero, então, antes de mais nada, também me desculpar pelo formato clichê do gênero pedido :P


.
Caros amigos, peço desculpas por ter ficado tanto tempo sem postar. O motivo muitos sabem. Estava marcando presença no manifesto na UnB. E já que estou sem outra coisa para vos falar hoje, vou comentar aqui um pouco sobre o protesto feito.
Estava eu fanfarreando desde o primeiro dia. Era uma manifestação modesta a princípio. Não apostava muitas fichas naquilo. Confesso que, de início, me aderi pela baderna. Aquela miscelânea me incitava. Mas... com o passar dos dias, com o movimento ganhando massa e, principalmente, divulgação, fui amadurecendo meus princípios ali mesmo, em meio à zorra. Nascia um sentimento forte clamando por justiça dentro de mim. Uma adrenalina revolucionária inexplicável corria em minhas veias. Me vinha à cabeça imagens do belíssimo movimento estudantil de 68, que vira antes em documentários.
É claro que as causas de outrora eram outras e mais sérias (tinham inimigo externo e causa política). Mas que culpa temos? O que importa é que estávamos ali, reivindicando nossos direitos estudantis, fazendo valer nossa voz, nosso coro. Assim como há tempos atrás. Mas deixemos esta parte para depois.
Quero, ainda, expressar aqui minha aversão àquele descarado do reitor Mullholand. Como pôde desviar tanto dinheiro?! Quase meio milhão de reais, da verba de pesquisa da universidade, para reformar sua cobertura... conta-me outra! E ainda dizem que nosso movimento cheirava à futilidade. Compartilhas da mesma opinião? Reflita só o quanto poderia ser investido na universidade com todo este dinheiro! E ainda se julgaram no direito de impor-nos uma multa de mil reais (!) por hora de ocupação, e cortar-nos água e luz. Claro, muitos desistiram por medo de se complicarem judicialmente, mas a grande resistência continuava lá. Me orgulho de ter feito parte daquilo. Era emocionamente ver aquele bando de desconhecidos entre si, unidos por um mesmo fim, com um coro de eriçar os pêlos: “Ocupa, ocupa, ocupa e resiste!”
Não pretendo alongar muito essa descrição, pois tenho receio de que isso fique grande o suficiente para não ser lido. Mas queria, antes de finalizar o post, acrescentar algumas outras palavras.
Vivemos hoje, em uma época de uma sociedade morta que, simplesmente, se acomodara à triste realidade. Violência e corrupção se tornaram coisas corriqueiras... não mais se luta por melhorias. Mais do que o afastamento do nosso reitor, acredito que este nosso movimento tenha tido um significado maior. Demos, além de tudo, um tapa na cabeça dos jovens de hoje, para que acordem e percebam que juntos, podemos fazer a diferença. Juntos podemos sim fazer com que nossas reivindicações sejam aceitas, com que nossa opinião seja escutada. Então acordemos. Não deixemos que corruptos nos omitam o destino do dinheiro público. Não permitamos que corruptos nos roubem o direito de uma educação melhor.
Quero, ainda, deixar algo bem claro. Estamos sendo chamados, ironicamente ou não, caras-lavadas. Não sou muito favorável a essa rotulação, mas chamem-nos como quiserem. Todavia saibam que jamais tivemos o propósito de sermos comparados aos históricos caras-pintadas. Até mesmo porque “em cada etapa da história, o movimento estudantil tem um papel e uma forma de se manifestar”, como diria o ex-líder estudantil e ex-ministro cassado (irônico, não?) José Dirceu.

19/07/2008

O sonhador

Um sonhador,
Um pobre sonhador.
Um dia um, outro dia outro,
Cada dia um sonho.

Vive sonhando,
Vive pensando.
Sonhando ele vive,
Pensando deseja.

Hoje ele pensa,
Amanhã ele sonha,
E mais uma vez ele vive,
Vivendo pensando.

05/06/2008

Furto Famélico

O que é uma melancia? Certamente é uma fruta de grande dimensão e de alto valor nutritivo. Mas para Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues da Rocha simplesmente fora uma alternativa encontrada para "tapear" a fome e, afinal, se manterem vivos. Assim foram, os dois, detidos pelo furto de duas melancias para seu próprio sustento.
Esse acontecimento nos põe a refletir deveras sobre o chamado furto famélico, o qual podemos definir, simplificadamente, como o furto de alimento para o próprio sustento do indivíduo.
Podemos tomar esse assunto de diversos ângulos. Diferentes pontos de vistas. Muitos acreditam que essa vertente do furto merece séria punição, tais como as demais espécies criminais. Eu, particularmente, em oposição, defendo a idéia de que o furto famélico é algo decorrente da nossa política decadente pela qual se torna cada vez mais evidente a enorme desigualdade social em nosso país. Acredito que não seja motivo para prisão. Pois se ocorrem furtos de milhares de reais debaixo do pano dentro da própria justiça e política brasileira por que é que se deve julgar aqueles que roubam comida e por pura necessidade?
No Brasil, o furto famélico tem sido alvo de polêmica e divergências entre os juizes brasileiros pois não é tido como crime. Quando se há a certeza dessa prática, a solução quase sempre é a absolvição do indivíduo pelo Princípio da Insignificância, o que não é bem aceito por alguns. E com certa razão, pois sejamos racionais. Isso é uma forma direta de incentivo à essa espécie de furto, a partir do momento em que não há punição para tal ato. Acredito que deve sim haver uma absolvição, mas claro, com condições. Afinal, furto é furto. Independente do motivo não deixa de ser ilícito. E deve ser julgado de alguma forma. Pois quem há de arcar com os prejuízos do comerciante? Não é "perdoando" delitos que adquiriremos uma sociedade digna, mas evitando que sejam cometidos.
Aposto que se tal pessoa, absurdamente faminta, explicasse sua dramática situação para o comerciante, obviamente ele não se recusaria a um pedido de alimento. Até porque não se costuma dar esmolas hoje em dia justamente devido ao fato de os pedintes “exigirem” dinheiro, o que coloca em dúvida a real situação da pessoa. Mas um pedido de comida... quem ousará recusar?
Acredito que à medida que esses furtos de comida, por mais insignificantes que sejam, saiam impunes das mesas dos juízes, maior é o incentivo para a prática. Hoje são duas melancias... e amanhã?

21/05/2008

Pensamentos do tempo

Sozinha, à noite eu penso
Nos que se foram
Nos que foram e não sabemos

No escuro eu penso
No que virá
No que perecerá

Em silêncio eu penso
E quanto mais penso
Mais certeza tenho de que sou História.

11/04/2008

Pessoas

Há uns dias venho evitando as pessoas, caindo no clichê de que são (realmente) deveras cansativas. E esvaio-me na hipótese de uma vida onde exista eu. Eu sendo minha companhia, minha melhor companhia. Meu amigo. Meu amor. Caio na realidade e encaro que não é possível viver só. Até que é possível, tendo em vista a sanidade. Ou a falta de sanidade. Sempre no meio de devaneios e indagações. Gostaria de tratar a vida como ela parece querer me tratar. Não necessariamente do jeito que eu realmente aprecio, mas nem sempre (leia-se: quase nunca) conseguimos tudo que queremos. Apesar de que, contraditoriamente, consigo bastante do que eu quero. Por vezes não da maneira que eu quero, mas ainda assim o fato em si. E creio que seja uma realidade comum a tantas pessoas, porque não me vejo com nenhum aspecto que me faça ser ou me sentir melhor do que alguém para estar obtendo regalias. E claro, caindo sempre num paradoxo imensurável, retorno a dizer o quanto evito as pessoas, mas, ao mesmo tempo, as quero. Não as pessoas que nada me acrescentam à vida. Quero pessoas que me ajudem a cada dia escrever um capítulo a mais no livro da vida. Como o ditado diz, a vida é um livro em branco, escrito à caneta, sem borracha ou corretivo. E ainda analogicamente falando, escrever capítulos grandiosos, com instigantes histórias, com um conteúdo pragmático e voraz, não deixando de ser, por vezes, inócuo e insensível, porque nem sempre de bons sentimentos são feitos os melhores momentos da vida. E eu, por experiência, digo: são tantas as vezes que capítulos na vida são finalizados (com um final bem legal) por pessoas que você jamais imaginara que dariam aquele quê à história. Pessoas evitadas por outros, aceitas por vocês. Pessoas que nada acrescentam a outros, mas acrescentam à você. Pessoas que eu evito, pessoas que eu procuro. Pessoas que eu confio. Pessoas. Sempre nesse meu dilema intrinsecamente pessoal e singelamente único. Pessoas.

09/04/2008

As facetas de 1808

[Apenas uma redação escolar.]


Indiscutivelmente, a história do Brasil é um tema amplo que, sem dúvida, provoca paixões e inúmeras discussões entre a população, devido à extrema riqueza em controvérsias. Controvérsias essas que ficam claramente ilustradas quando nos referimos, principalmente, à tão debatida vinda da Corte de Portugal para o Brasil em 1808. Ironicamente, neste ano, comemora-se (ou lamenta-se) os duzentos anos dessa “passagem” portuguesa pela nossa “pátria amada”. Uma duradoura estadia que se concretizara quando Dom João (não ainda VI), príncipe regente e futuro rei, com o intuito de fugir das tropas de Bonaparte, desloca a Corte Portuguesa de Lisboa para o Rio de Janeiro. Uma simples mudança que viria a acarretar profundas transformações políticas, econômicas e, principalmente, culturais na colônia Brasil.

Muito se especula hoje em dia, por muitos, o fato de que D. João (trans)formara positivamente o Rio de Janeiro, deixando um legado e uma marca indelével na cultura e na construção desta nação.
É indubitável que devemos ao príncipe regente grandes obras e projetos deixados. Academia Brasileira de Belas Artes, Teatro São João, Jardim Botânico, Biblioteca Nacional, Banco do Brasil, importantes escolas e liceus, festividade carnavalesca... São apenas algumas das grandes heranças a se citar. Tais heranças são tão ovacionadas por uma grande parte dos brasileiros que os fazem chegar à conclusão de que essa vinda da Corte Portuguesa fora a melhor coisa que acontecera à admnistração do Brasil desde o seu “descobrimento”.
Porém, não encontramos todo esse encômio sobre a vinda do regente no discurso de todos os brasileiros, digo, todo esse “beija-mão” não é algo a se generalizar. Há uma grande parte da população brasileira, incluindo-se vários historiadores, que não vêem tanta bondade e heroísmo assim na figura do regente. Eu, inclusive, me identifico com essa "massa de oposição". Penso que, apesar de ter contribuído para o Rio de Janeiro em vários aspectos, nos deixando um legado extraordináro, D. João o fizera não por simples simpatia à colônia, e sim pelo maior conchego da própria corte portuguesa que, agora, se instalara naquelas terras, ou seja, nada disso se deu por um caráter benevolente de D. João para com a colônia, e sim como consequência das tentativas de melhorar a acomodação da própria Corte Portuguesa. Podemos dar, como exemplo disso, o primeiro ato de D. João ao chegar ao Brasil, que fora a abertura dos portos às nações amigas (entenda-se Inglaterra), que, por sua vez, ajudou muito no desenvolvimento do país. Todavia isso só fora realizado devido a exigência feita pela própria Inglaterra em troca da escolta da Corte Portuguesa ao Brasil, ou seja, por puro proveito particular português.
D. João não apenas seguiu suas aspirações. Após sua volta para Portugal, nossa economia se viu completamente abalada, devido ao fato de o príncipe regente ter “limpado” os cofres do Banco do Brasil, deixando o país em sérias dificuldades, às vésperas de sua independência, o que comprova o total desmazelo de D. João para com o Brasil.
Uma pergunta crucial sobreve em nossa mente: “Por que então essa vinda da família real, mesmo sendo parcialmente negativa, é tão bem vista pelos olhos do brasileiro?”. Uma pergunta intrigante, porém com uma resposta bem simplória. O que acontece é que os meios de comunicação omitem os aspectos maléficos da vinda portuguesa, enfatizando apenas os grandes legados presentes nos dias atuais, assim tornando o ano de 1808 uma data ilusoriamente celebrativa.

Finalmente, podemos inferir que a vinda da Corte Portuguesa ao Brasil é um assunto bem polêmico e que pode vir a trazer inúmeras interpretações e divergências de opiniões. Todavia, uma coisa é certa e comum a todos os pensadores: o ano de 1808 dimanou em mudanças que, com certeza, têm seus reflexos presentes, ainda, nos dias de hoje. Sejam elas positivas, sejam negativas. E, mesmo que não seja algo crucial para nossa sociedade atual, a presença portuguesa no país é um assunto que vai continuar a ser discutido pelos próximos 100, ou quem sabe, até 200 anos.

24/02/2008

Relato de um Miserável












Me chamo Jahari e pretendo relatar aqui a vocês um pouco da minha deplorável vida, ou existência.

Meus pais morreram em uma invasão à aldeia em que vivíamos quando eu tinha apenas 6 anos. Tenho infelizes lembranças daquele acontecido. Lembro-me dos meus pais gritando, berrando, urrando, suplicando por piedade, fato que se sucedera por um estrondo de tiro. Eu ficara ali, estático, naquele cubículo onde meus pais haviam me aconselhado esconder. Observara àquilo com um ar intrigante e inquieto, tentando entender o que estava acontecendo, pois naquela época não tinha maturidade o suficiente para entender o que, de fato, significava a morte. Não tinha maturidade o suficiente para compreender que, a partir daquele momento, nunca mais os veria novamente.
Aqueles gritos atormentam minha mente a todo instante até os dias atuais.

Hoje completo 14 anos. Mas e daí? Quem se importa? Quem ao menos sabe disso? Bem queria ganhar um pão de presente. Mas não tenho amigos a quem posso confiar tal pedido. E mesmo se tivesse, não creio que se dariam ao trabalho de me arrumar algo tão valioso.
Até tento evitar de me lembrar de comida, ainda mais hoje que estou faminto, pois, sempre que o faço, meus olhos se enchem d'água e minha boca seca automaticamente dá-se lugar a uma acelerada salivação.
Faz pouco mais de quatro dias que não como nada. Juro que, neste instante, seria capaz de comer até carne humana.
Além da fome, o cansaço também me domina, pois há muito tempo sigo essa minha caminhada sem rumo sob o efeito desse maldito sol escaldante.
Paro para descansar sempre quando a noite chega. Deito no chão e tento dormir, mas meu estômago ronca tão alto que não me permite fazê-lo muito bem.
A jornada prossegue. O forte bodum que exalava do meu corpo começa a ficar insuportável até mesmo para mim. Não consigo nem me lembrar de quando fora a última vez que tomara um banho decente.
A água do meu cantil improvisado está acabando. A última vez que o reabastecera tinha sido na última aldeia que encontrara há exatos três dias. Infelizmente, a água, não tão pura, fora a única coisa que puderam me oferecer. Aquele povo, assim como eu, era completamente miserável. Optei por continuar minha jornada em busca de um lugar melhor.

Pode tudo isso até soar exagero de minha parte, mas meu estado de pobreza é realmente crítico, lamentável, e, sinceramente, não sei até quando conseguirei sobreviver. Minha desgraçada realidade se resume em uma nua e crua miséria. Vivo apenas alimentado por minhas expectativas e esperanças.
Não consigo imaginar a catástrofe que fizera para ter sido tão castigado assim. Não consigo achar um porquê para tudo isso estar acontecendo comigo. Não consigo entender por que EU fora escolhido e predestinado a sofrer tanto durante TODA minha existência. Me pergunto a todo momento: Por que EU?
E, pode nem todo mundo concordar, mas tudo isso sempre me põe a refletir, questionar e duvidar sobre a existência de um Deus.
São várias perguntas sobre minha existência em si que definitivamente me intrigam. Minha mente está sempre em constante trabalho, apesar de meu lastimável estado físico não deixar transparecer isso.
Às vezes prefiria não ter nem nascido. Já pensei várias vezes em, simplesmente, desistir de continuar lutando, mas, apesar de tudo, tenho bastante fé de que, em breve, encontrarei uma pequena aldeia que tenha condição de me acolher, de me fornecer qualquer coisa conceituada comestível.
Apesar de toda miséria, fome e carência de lar, família e amigos, ainda vivo, mas o faço com a plena consciência de que meu grande objetivo vital é, simplesmente... sobreviver.
Espero que, no mundo afora, quem tem a oportunidade de fazer isso intensamente, que o faça! E que se alegre por ter tudo que tem, porque existem pessoas, assim como eu, que não têm absolutamente nada.
Mais do que uma dica, isso é um apelo.

17/02/2008

A Morte

Apenas um conto amador, pra tentar manter o blog atualizado ;)


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Respiração ofegante. Uma tentativa de grito, mas sem sucesso. O medo era tão intenso que, por mais que forçasse suas cordas vocais, parecia impossível de se reproduzir algum som.
Corria desesperadamente com muita dificuldade, sem algum rumo propriamente dito. Suas pernas pareciam não obedecer aos seus comandos. Tendiam a ficar estáticas. Paralisadas. Imóveis.
Era madrugada. Passava-se das 2 horas. Aquela vila parecia estar mais sinistra e macabra. Procurava alguém a quem pudesse pedir por ajuda, mas tudo parecia estar completamente deserto. Não se ouvia nada, nenhum ruído, exceto o forte pisotear de seus pés sobre o chão.
Seu sangue pingava pela calçada enquanto corria, denunciando seu trajeto.

Clara era uma menina linda, de cabelos negros, olhos verdes que deixavam transparecer toda sua ambição. Tinha a saia como seu traje usual. Típica menina que atraía os olhares masculinos ao passar. Ela tinha ciência de sua sensualidade, e abusava disso. Achava tudo aquilo o máximo.
Mas em que isso adiantava? Ia morrer em poucos minutos. E sua beleza de nada seria útil. Ao contrário, ia morrer por causa dela.

Seu ritmo estava diminuindo. Seus passos já não eram tão largos. Sua cor já não era tão parda.
Seu coração batia impetuosamente, parecia querer saltar pra fora de seu peito. Sua pulsação estava demasiadamente acelerada. Sentia que estava morrendo aos poucos.
Aquela situação a fazia refletir sobre tudo que vivera até então. De tudo que perderia com a morte. Definitivamente não passara pela sua cabeça que, ao sair de sua casa naquela noite, poderia ser vítima de sadismo sexual.
Piscava os olhos a todo instante, na esperança e com a expectativa de aquilo tudo não passar de um terrível pesadelo. Seu pior pesadelo.
Mas infelizmente aquela era a cruel realidade em que se encontrava.
Clara pensava em desistir a todo momento, já que seu peso, por menor que seja, começara a significar muito para suas pernas já desgastadas. Mas algo intrínseco a forçava a continuar lutando pela vida.

A distância entre ela e o estuprador diminuía cada vez mais.
Ela olhava para trás a cada segundo. Sentia seu sangue congelar ao ver um leve sorriso estampado no rosto tenebroso e malevolente de seu agressor.
Ele corria atrás de Clara, mas parecia não ter a intenção de querer alcançá-la. Parecia sentir um prazer imenso em vê-la sofrer. Parecia sentir um prazer imenso ao ver sua indescritível expressão facial de desespero.

Clara, enfim, fora percebendo que o estado físico e emocional em que se encontrava não era nada apto a competir com o estuprador sádico que corria atrás dela.
Apesar do imenso amor à vida, resolvera entregar os pontos. Ela simplesmente, num ato de desistência, parou de correr bruscamente. Surpreendendo, inclusive, o sujeito que a perseguia com uma enorme sede de seu corpo. Ela começara a soar frio, seu coração batia mais forte. Estava ferida demais pra continuar. O agressor parou de correr também. Ia se aproximando.
Um filme de flashbacks de sua vida passava por sua cabeça. Sua vida estava com os minutos contados. Toda sua mente estava voltada para esse único fato. A morte, de fato, estava próxima, a julgar pela forma brutal que ele a golpeara inicialmente, antes de se dar início a toda essa perseguição. Tinha a certeza de que aquele homem a estupraria e a mataria em seguida, ou inverteria os processos na hipótese de se tratar de um necrófilo. Enfim, isso não importava, pois, de qualquer forma, estava predestinada a morrer naquela fria madrugada. Ela ia, finalmente, descobrir os mistérios que a vida esconde e que só a morte é capaz de nos revelar.

O estuprador sádico finalmente a alcança. Começa a despí-la violentamente. Ia, finalmente, concluir o que deixara a terminar minutos atrás, antes de deixá-la escapar em um momento de falha.
Clara permanece imóvel, dopada por seus pensamentos. Ela tinha, definitivamente, desistido da vida. Felizmente, não conseguia sentir mais dor alguma. A dor das facadas que a golpeava era desprezível se comparada com a dor da morte propriamente dita. O estado de ansiedade predominava. Ela estava excessivamente preocupada com a possibilidade de não haver uma vida após a morte, fato que ela acreditava cegamente, mas que agora, já não tinha mais a certeza de nada.

15/02/2008

Estreando

Queria escrever algo novo aqui, mas o tempo já está começando a ficar escasso para mim. Visto que há postagens de textos que já tinha lido antes, vou começar minhas postagens aqui com algo que já tenho escrito. Vamos lá!

"Por dentro ainda somos crianças imaturas que aprendem a amar"
Se eu pudesse por um dia voltar a ver as coisas como uma criança vê, acredito que tudo seria diferente desde então. Criança é inocência, é responsabilidade indiferente. É ser, não sendo, apenas participando. É existir sem a dureza do real. Sem a dificuldade do adulto. Tudo é tão fácil. Consigo enxergar nuances das cores infantis. Sinto o toque aveludado do azul-claro que toco ao me remeter a meu primeiro contato social. Sinto o forte vermelho quando penso no primeiro amor. Consigo sentir a grande textura do marrom-escuro do primeiro proibido realizado. Sinto o violeta quando consigo visualizar a primeira derrota. O preto quando tenho o primeiro contato com a repressão. O branco-acinzentado quando sou apresentado ao novo. Cores. Representam tanto. Nostalgicamente necessárias. Eu, como criança, necessitando de referências. O azul do menino. O rosa da menina. O verde do diferente. Tenho vontade de tornar certas coisas novas. Aproveitar de primeira experiência para conseguir a voraz necessidade da primeira vez. Do conhecer do novo. Consigo ver o brilho do amarelo das primeiras conquistas e felicidades. Consigo ver no alaranjado uma busca pelo saber, pelo conhecer, pelo querer sempre mais. Queria abrir os olhos e veemente sentir que não estou aprisionado por essa falsa liberdade que acomete todo singelo ser humano. Sentir que o livre arbítrio é real e não mais uma façanha de grandes nomes. De poucos. Mas, não é possível.

Anarquismo

Quem nunca pensou nas vantagens e possibilidades de uma sociedade anarquista, que atire a primeira pedra.
Podemos conceituar o anarquismo, bem resumidamente, como uma teoria libertária baseada na ausência de um governo. Visavam uma nação sem leis, sem Estado. Ausente de qualquer mecanismo controlador.
Apesar de ter tido seu ápice no início do século XX, existe, ainda hoje, adeptos que, infelizmente, vêem a utopia propriamente dita concretizada na anarquia.
Mas as coisas não são bem por aí.
Será mesmo que uma sociedade, composta de milhares de pessoas, é capaz de se manter SEM quaisquer normas ou leis? .Claro que não! Em TODA sociedade tem que se ter regras, até mesmo pelo bem da organização da mesma. Caso contrário tudo se resumiria em uma só palavra: CAOS.
Será que uma sociedade, com tanta gente, seria capaz de se manter pacifista sem qualquer forma de governo? Obviamente também não. Podem ter certeza de que muita gente se portaria da forma mais arruaceira, desordeira e desalinhada possível. Ainda mais se tratando de uma nação em que haveria a ausência TOTAL de qualquer mecanismo que possa controlar quaisquer atitude inadequada que alguém poderia vir a cometer.
Pense: se o sistema anárquico não é idealizado por nenhum mecanismo controlador, como o cidadão se portaria diante de um ladrão ou assassino? A quem ele deveria recorrer? Como deveria reagir?
Enfim, quais seriam as devidas punições para quem agride o direito dos demais?
A resposta é simples: na sociedade anarquista todos têm que se virar. Ou seja, partir para a agressão ou se reprimir.
E, todos devemos confessar que nessas situações é mais do que FUNDAMENTAL a existência de um governo. Ou seja, como todo sistema, o anarquismo também possui falhas. E graves.
É bastante utópico pensar que a anarquia seria uma sociedade perfeita em que todos viveriam em harmonia.
Não é à toa que a anarquia hoje seja, para muitos, sinônimo de desordem e bagunça. Pois é realmente o que seria nossa sociedade se a anarquia se tornasse algo concreto.
Não digo tudo isso me referindo ao início do século XX, quando se discutia mais profundamente sobre o assunto, pois não vivi naquela época para poder afirmar isso com certeza. Não sei como se portava a sociedade. Até acho que a idéia foi uma excelente tentativa em busca de pacifismo e democracia.
Mas posso sim afirmar que, aplicá-la nos dias atuais definitivamente não daria certo. Depois de uma análise sobre todos os aspectos políticos e humanos podemos perceber e concluir que seria algo completamente impossível e irracional implantar a anarquia nos dias de hoje.
Basta imaginar e refletir que você terá as mesmas conclusões de tudo que falei até agora. Pense no seu próprio comportamento diante disso. Pense em como toda sociedade se portaria sem um governo.

Antes de finalizar, gostaria de deixar claro que, assim como o anarquismo, eu também sou contra qualquer forma de autoritarismo. Todavia, tenho consciência o suficiente para saber que viver sem um governo seria algo completamente caótico.

Recomeço

Um novo ano.
Um novo ano que, literalmente, me traz uma nova vida, um recomeço.
Muita coisa será deixada para trás.
Não materialmente falando, mas sentimentalmente.
Aquele amigo que sempre costuma ficar à minha direita estará a milhas distantes ao amanhecer.
Aquela rotineira saída amigável aos fins de semana não existirão mais. Aquelas perfeitas caminhadas sem destino... estarão perdidas.
Não mais farei aquilo que costumava fazer por diversão. Aquilo que costumava fazer por estar acompanhado de amigos, aqueles os quais fazem qualquer risco valer a pena.
Aquela boa conversa jogada fora nos intervalos da escola já não existirão.
Aquele velho campo no qual costumávamos jogar bola será apenas uma recordação na minha fraca memória. Recordação de velhos tempos que não mais voltarão.
Pode tudo isso até soar ridículo, mas é isso aí.
É como se meu pior pesadelo estivesse tomando vida.
Aquela puta realidade horrível de que não terei, nem verei nada daquilo novamente.
Nem mesmo este chão, o qual estou olhando agora, não sentirá mais o pisotear dos meus pés descalços.
O relógio agora marca 6:45. Minha mochila já está apoiada em meu ombro esquerdo. Estou partindo. Apenas com minha passagem de ida.

14/02/2008

Mistérios da Vida

Às vezes páro para refletir sobre todos estes mistérios da vida. Quem não?

São muitas perguntas, todas sem resposta.
São coisas que você só irá descobrir quando morrer, e essa é justamente a parte mais intrigante.
Qual é a verdadeira origem da vida na terra? Por que você vive? Digo, qual é o verdadeiro propósito? Enfim, quem realmente somos? De onde viemos? Pra onde vamos?
A única coisa que é certa é de que um dia todos nós iremos morrer. E o que acontece em seguida? O que diabos acontece depois da morte? Você simplesmente entra em um estado de sono profundo (digo, eterno)? Você passa a viver em outra dimensão? Ou você realmente acredita nesse papo-furado de "céu-inferno"? pff.
São perguntas intrigantes que iremos carregar conosco durante toda nossa vida. E que por mais que reflitamos, nunca saberemos tais repostas.
Ás vezes páro e me olho no espelho. Penso: isso é apenas um corpo. Poderia estar em qualquer outro corpo que minha personalidade continuaria a mesma. Me dou conta de que meu verdadeiro eu é, de fato, minha alma. Olho para as pessoas ao lado. Penso que eu poderia estar na situação de qualquer uma delas. E Isso é uma sensação completamente estranha, a propósito. Uma impressão tosca de que cada um foi cuidadosamente escolhido para cada corpo. E o que pensar sobre tudo isso?
Às vezes me pego com pensamentos egoístas. Tais como que se esse mundo fosse feito exclusivamente pra mim, e todas aquelas pessoas ao meu redor foram colocados em meu caminho por algum propósito. Como se minha vida fosse uma sequência de testes. De longuíssimo prazo.
Mas logo caio na real. Essas pessoas, assim como eu, procuram respostas para perguntas. E com certeza, têm as mesmas indagações que eu.
Pois, contudo, estamos todos no mesmo barco, querendo ou não.
A maioria de nós passa a vida inteira estudando e trabalhando duro. Tudo isso para quê? para um dia morrermos e.. game over? Qual é o verdadeiro propósito? Existe uma recompensa para TUDO isso no final?

Enfim, descubram quando morrer.
Mas não me conte.

Experiências de Vida


A vida às vezes nos dá uma rasteira, mas em seguida lá está ela com a mão estendida, nos oferecendo ajuda e tentando de todas as formas explicar que aquela rasteira era apenas para o seu próprio fortalecimento, para lhe ensinar a viver e lhe dar a chance de poder ajudar aos outros quando caírem numa mesma situação em que você esteve. Mas em determinados casos, por mais que tentemos encontrar uma explicação para o que houve, que seja pelo menos lógica, não conseguimos, não entendemos, e aí fica somente o mistério, uma dúvida que sempre carregaremos conosco.
Quem diria que um dia eu iria conseguir tudo que tenho hoje, não materialmente, mas afetivamente. Talvez fosse por ‘acaso’? Aliás, existe o ‘acaso’? Ou tudo é obra do misterioso ‘destino’? Honestamente falando, creio que ambos se unem e formam o que denominamos de Vida!
Às vezes penso que cada um de nós está aqui, presente na vida de outras pessoas, não só para fazer a diferença, mas talvez por algum propósito, por algum motivo pelo qual você veio ao mundo, algum objetivo que tenha que cumprir mesmo sem saber que objetivo é esse. Pode parecer bobagem, mas como provar que a vida não é assim?Talvez seja esse o problema, a ambição de muitos de explicar a vida acaba fazendo os mesmos se perderem no tempo, por fim, acabam não entendendo que a vida não se explica, mas sim, se vive!
O que é viver a vida? Seria estudar até certa formação e depois trabalhar quase toda a vida para simplesmente poder conquistar suas ambições materialistas? Se realmente fosse isso, que finalidade teria? Talvez quando caísse na real e olhasse para trás, veria todo o tempo perdido, esquecido, abandonado junto aos sentimentos ali mesmo pisoteados pelo seu próprio ego.
Durante toda a vida percorremos diversos caminhos, erramos inúmeras vezes, acertamos e comemoramos, conquistamos diversas amizades, fazemos diversos projetos, determinamos metas a serem cumpridas, fazemos diversos elos e ao mesmo tempo desfazemos outros, às vezes não porque queremos, mas porque nos é imposto. Poderia também ser mais uma obra do ‘destino’, que por fim, novamente não vamos conseguir explicar.
Essas amizades conquistadas começam a partir de então a fazer a diferença em nossas vidas. Nos momentos de angústia, de solidão, de alegria, de felicidade e diversão, os verdadeiros amigos estão sempre ali, ao seu lado, segurando sua mão e propondo sempre a ir em frente, desde que seja o certo a se fazer, e partir daí, não se importando nem mesmo com os riscos.
O ‘destino’ cruza nossos caminhos com outros diversos, nos fazendo a parar com a caminhada por um motivo ou outro, talvez com o objetivo de nos fazer pensar, refletir um pouco sobre todo aquele caminho já percorrido, e nos fazer enxergar que nem tudo na vida é perfeito, mas que também nada é impossível quando se tem uma verdadeira vontade de realizar.
Para que possamos colocar em prática a aprendizagem adquirida, todos nós vivemos momentos difíceis, sofremos perdas irressarcíveis, as quais nos causam uma dor tão profunda que é suficiente para que comecemos a valorizar ainda mais tudo o que temos, todos que convivem conosco.
A perda ou o distanciamento de um amigo é algo tão doloroso que palavras jamais conseguirão explicar. Ainda mais quando se trata de um amigo que esteve conosco em momentos importantes, com o qual se compartilhava momentos, alegrias, dificuldades, trocava experiências e conselhos. Com o qual se podia poupar tempo durante as conversas, dizendo apenas meias palavras, o suficiente para que se pudesse haver um entendimento entre ambas as partes, que quase sempre, chegavam numa mesma conclusão. Não precisa necessariamente ter sido por muito tempo essa convivência, pois o que importa é a intensidade com que se viveu aqueles momentos no curto tempo que se teve, a intensidade de todo aquele companheirismo vivido.
A amizade não se explica, ela simplesmente existe! E essa existência é capaz de coisas inimagináveis, como mudar a personalidade de uma pessoa, tornando-a ainda melhor.
Como poderia alguém viver cinco meses como se esses tivesse tido a duração de um ano, e após o surgimento de algumas amizades, viver mais cinco meses como se tivesse tido a duração de apenas três dias?
É um pouco difícil de explicar, porém, não impossível. Mas digamos apenas que eu vivi esses “três dias” sendo eles muito proveitosos e gratificantes, os quais estarão sempre em minha memória...
Sinto-me feliz pelo fato de saber que jamais estarei sozinho, que sempre terei amigos ao meu lado, amigos verdadeiros, amigos capazes de tornar um dia triste em um dia feliz e descontraído, capazes de nos fazer esquecer os problemas.

Então, viva da melhor maneira possível, e não se esqueça, preserve os amigos, pois são uma riqueza incalculável.

Tiago Lima