ARTHUR TADEU CURADO:
UM ATOR QUE DIRIGE, ESCREVE. AH, CLARO, TAMBÉM ATUA.
UM ATOR QUE DIRIGE, ESCREVE. AH, CLARO, TAMBÉM ATUA.
A internet surge como um divisor de águas, inclusive no âmbito jornalístico. Recebi a sugestão de Patrícia Marjorie para entrevistar Arthur Tadeu Curado, por uma mensagem no Twitter, rede social que interliga os pensamentos e ações dos integrados à rede. Logo então, marquei a entrevista, de forma simples e rápida: por e-mail. Combinamos de nos falar às 16h, quando ele já estivesse no Casa D’Itália, na 208 Sul, em Brasília. No horário marcado, a ligação aconteceu. Com disponibilidade e prontidão, Arthur Tadeu Curado, 27, diretor de teatro, ator e dramaturgo, me atendeu e falou sobre sua vida, suas peças e sobre os anseios e vontades metidos no meio disso tudo. Mostrou ser um profissional dinâmico e, além de tudo, determinado. Atualmente mora em Brasília, mas já morou na Nova Zelândia e no Rio de Janeiro e, antes do teatro, estudou por um tempo Comunicação Social. Conheça o que foi possível descobrir de Arthur Tadeu Curado nos 28 minutos de entrevista concedidos por telefone na tarde de quarta-feira, dia 6 de maio de 2009.
Por Lucas Soares
Foto por Raphael Herzog
Onde foi que você nasceu?
ARTHUR CURADO: Nasci em Brasília, mas aos 17 anos fiz intercâmbio, indo para a Nova Zelândia. Voltei para o Brasil, fui morar no Rio de Janeiro e somente cinco anos depois de estar fora de casa voltei para Brasília.
Você se graduou pela Casa das Artes de Laranjeiras – CAL, no Rio de Janeiro. O que te fez deixar Brasília para estudar teatro fora?
ARTHUR CURADO: Eu estava num momento da minha vida, querendo experimentar outras coisas. Ainda era moleque, tinha 19 anos. O intercâmbio foi uma experiência muito intensa. Quando voltei tive um pouco de dificuldade para me adaptar à minha casa e à cidade de Brasília. Eu tinha sido aprovado no vestibular da Universidade de Brasília (UnB), para o curso de Comunicação Social. Mas, mudei de ideia, queria outra atividade. Decidi fazer teatro e fui em busca da melhor escola do país: fui para o Rio de Janeiro.
Você já dirigiu, atuou e escreveu dez peças teatrais diferentes. Como você se enxerga perante o mercado teatral hoje em dia? Que tipo de profissional você acha que seu perfil se encaixaria?
ARTHUR CURADO: Tem gente que me chama de multimídia. Eu sou um ator. Minha formação é em Artes Cênicas. Então costumo dizer que me considero um ator; um ator que dirige, um ator que escreve, mas um ator.
A partir de suas experiências, qual a maior dificuldade enfrentada pelo teatro nacional hoje? Em Brasília isso é diferente?
ARTHUR CURADO: O teatro é muito suscetível às crises econômicas. Eu perdi vários patrocínios da minha nova peça por causa da crise mundial atual. Sempre que acontece algo do gênero, a primeira coisa que as pessoas cortam é o lazer – e eu entendo. Por mais que tentemos fazer um espetáculo mais barato, o lazer é sempre deixado de lado. Ficamos na corda bamba sempre que o país entra em recessão. Em Brasília, apesar do atraso no incentivo, o patrocínio, ligado ao trabalho de qualidade, acontece de forma mais fácil. Não que seja mais fácil, mas se torna mais fácil. E tem o público. Você cativa o público e a partir de então tudo o que você faz esse público vai assistir. Assistem por ser você que está fazendo, por te conhecerem.
O texto de Dois de Paus foi selecionado pelo Projeto Palco Giratório Brasil, sendo o único selecionado em âmbito brasiliense. Como foi a experiência? Você acha que a temática da peça influenciou em alguma parte da decisão?
ARTHUR CURADO: Acho que a temática influenciou. A temática, o sucesso. Nunca na história do Projeto Palco Giratório aconteceu de uma peça ter sessão dupla como ocorrido com Dois de Paus. E isso se deu devido ao espetáculo, à maneira de condução da peça. Mais de 40.000 pessoas assistiram ao nosso trabalho. Ter transformado a peça em romance, cinema, conhecer o país [a turnê passou por 40 cidades] e poder mostrar meu trabalho foi muito gratificante.
Você viajou por 40 cidades brasileiras apresentando Dois de Paus. Em alguma dessas cidades você ou Sérgio Sartório, parceiro em cena, enfrentaram algum tipo de preconceito pelo texto da peça? Como era a reação das pessoas ao espetáculo?
ARTHUR CURADO: Na verdade não, não enfrentamos problemas com preconceito. A gente teve, em algumas cidades, um certo incômodo da plateia, ao ver uma relação homoafetiva ser tratada de maneira tão normal. Como a gente era a única opção de cultura de algumas cidades de interior, por exemplo, as pessoas iam assistir à peça sem saber do que se tratava, sem nunca ter lido nada sobre, sem entender o trocadilho simples do título do espetáculo. A gente não teve problemas, mas sim uma estranheza, porque, querendo ou não, a história é muito urbana, trata de relacionamento que se inicia no meio virtual, com um linguajar de cidade grande.
O homossexualismo é um tema forte, mesmo neste suposto mundo cosmopolitano que vivemos. Qual a sua visão perante o assunto e a importância em discuti-lo?
ARTHUR CURADO: Na realidade eu acho que o assunto deve ser tratado de forma simples e sem tabus. Eu acho que é importante discutir todos os temas, quebrar preconceitos. É sempre válido. Muita gente veio falar depois da peça que nós os ajudamos a encarar a realidade de forma diferente. Ouvi depoimentos de mães dizendo compreender melhor os filhos depois que assistiram ao espetáculo. Muitos gays comentaram que, depois da peça, passaram a expressar seus sentimentos em público, sem o receio de antes. A peça nunca teve a intenção ou pretensão de quebrar barreiras. Mas, conseguimos. E isso é bom.
Como surgiu a ideia de escrever Dois de Paus?
ARTHUR CURADO: Em 2004, quando escrevi, passei por um exercício dado em sala de aula por uma professora. Precisávamos escrever uma história de amor sobre um casal. Escrevi. Era um homem e uma mulher, A e B. Nem nomes eu tinha dado. Quando chegamos em sala para discussão dos textos, concordamos que minha história poderia girar em torno de um casal homoafetivo. E então a ideia foi colocada em prática, gerando o texto da peça.
Vocês fizeram Dois Perdidos (2003), com texto inspirado em texto de Plínio Marcos e direção de Rachel Mendes. O que você achou da adaptação para o cinema feita pelo diretor José Joffily, com Débora Falabella e Roberto Bomtempo interpretando Paco e Tonho?
ARTHUR CURADO: O filme foi lançado na mesma época que estávamos viajando em turnê com a peça. O diretor do filme pediu para que a gente participasse de um debate, na época, sobre o filme, mas negamos. Ainda estávamos em cartaz com a peça e não queríamos assistir ao filme para não recebermos nenhuma influência. Depois de um tempo assisti. O filme faz uma boa adaptação do texto teatral para o cinema. Os principais pontos da peça estão lá. Transpor uma coisa em diálogos para um roteiro de cinema é uma viagem totalmente diferente. Eu achei muito bom, principalmente o roteiro.
Qual a relação que você enxerga entre as trilhas sonoras e os espetáculos que você se vê envolvido?
ARTHUR CURADO: Eu escolho a trilha. Quando escrevo o texto, já escrevo com a sugestão da música. Não que o diretor precise cumprir, mas eu já escolho antes. Eu penso a cena com uma música. Sou muito musical. Eu só amadureço as ideias durante o processo de ensaio. Eu tive dificuldade com o “Complexo de Cinderela” e com “História Redonda Sobre o Nada” [agora sendo montado em Buenos Aires]. Acho que a música é um ótimo condutor. Coloco sempre os atores para ouvirem à trilha da peça, os coloco no clima da produção para terem as sensações. Mas, eu uso pouca música, uso-as pontualmente. É trabalhoso, mas divertido de escolher.
O que você já pensou em fazer no palco que não deu certo? Existiu algum momento em sua carreira onde você decidiu jogar tudo pro ar?
ARTHUR CURADO: Não, agora não, teve uma situação antes de começar a vida profissional. Comecei a fazer teatro aos 7, 8 anos. Aos 15 fiz amador. Foram experiências legais. Quando fiz meu intercâmbio, me vi envolvido com publicidade e ao mesmo tempo teatro. Desisti da publicidade. Quando comecei mesmo como profissional, que considero ter sido aos 22 com “Dois Perdidos”, não tenho nenhum momento onde tenha jogado tudo pro alto. Tive erros sim, erros dramatúrgicos, erros de escolha de atores, de cenários. Mas coisas que fui aprendendo ao refazer. Como sou eu quem escreve normalmente os projetos que estou envolvido, então tenho a sorte de poder consertar, modificando o que não ficou bom.
Patrícia Marjorie, uma das atrizes de sua peça, já participou de outras montagens teatrais que você esteve envolvido. Como é trabalhar com pessoas que estão ou já estiveram ligadas ao seu trabalho?
ARTHUR CURADO: É ótimo. No teatro a gente precisa de parceiros sempre. E eu já encontrei bons parceiros. O Sérgio [Sartório], a Andréa Alfaia, que escreveu meu monólogo, e a Patrícia Marjorie, que é minha atual parceira. Ela tem sido minha assistente de direção, coordenado a produção, parceira de cenas. Gosto muito de trabalhar em duplas. Nossa equipe tem 28 pessoas trabalhando pro espetáculo funcionar. A Patrícia é uma atriz que se formou na UnB e não tínhamos trabalhado juntos. Concorremos aos mesmos prêmios, inclusive ao Palco Giratório Brasil. Mas, nos reencontramos e temos feito quase tudo juntos ultimamente.
Em recente entrevista [à Thales Sabino], você declarou que “Deveriam existir menos atores despreparados”. Em sua nova peça você está dirigindo duas atrizes que carregam grandes trabalhos e tempo de carreira. Como você encara isso?
ARTHUR CURADO: Eu acho ótimo trabalhar com gente que já tem história, que já tem prêmios nas costas, que já fez espetáculos ótimos. Mas existem muitos atores despreparados e isso acaba assustando a plateia e queimando a classe inteira. Então, minha declaração se trata disso. Os atores devem estudar, devem ter experiência para trabalhar mais e não pagar mico no palco. Não é uma crítica aos atores em geral. Os atores novos da nova montagem de “Dois de Paus” que estou fazendo são jovens, 20, 21 anos. Mas têm história. Já carregam uma bagagem, são estudados. Claro que aos 21 você não tem condições de ser o melhor ator do mundo, mas a experiência com eles está sendo bem legal. Eles mostram muita vontade de fazer o espetáculo – que estreia dia 8 de Agosto.
Qual a maior dificuldade que você encontrou com a nova montagem de “Complexo de Cinderela”, que estreia no dia 8, em Brasília? Qual sua maior expectativa?
ARTHUR CURADO: A maior dificuldade é que eu finalmente superei o complexo. As pessoas perguntam por que mudo tanto as coisas, os cenários, a trilha, os atores, a iluminação. Eu estava amadurecendo a ideia, do amor idealizado. Fui crescendo, fui criando um entendimento maior sobre o tema, e agora eu brinco que eu superei. Eu brinco que só preciso achar o meio de campo, para poder estender o assunto a todo mundo, defendendo as pessoas através destas duas personagens [da peça]. Como eu superei o assunto, esta deve ser a última versão da peça e quero que dure seis anos, com a mesma formulação que estrearemos sexta. Sempre riem muito do espetáculo, e saem muito tocados ao mesmo tempo. Quero comunicar com as pessoas.
Qual o tipo de público que você pretende atingir com o novo espetáculo?
ARTHUR CURADO: Eu sempre me surpreendo. Sempre aparece gente de todo tipo. As mulheres, claro, se identificam mais, porque damos uma sacaneada nos homens.
Muita gente resume o teatro brasileiro em Nelson Rodrigues. Quando muito, fala-se de Stand-Up Comedies, em alta no Brasil e peças sem vigor artístico, dramático. Quais os nomes do cenário teatral brasileiro que, pra você, foram e são importantes?
ARTHUR CURADO: Não vou citar os antigões, por serem óbvios, mas, no início da minha carreira eu fiz Nelson. Já está datado. Em Brasília temos Adriano e Fernando Guimarães, com conhecimento e reconhecimento nacional e internacional e um trabalho estético interessante. A Fernanda Young, uma das melhores pessoas do teatro, apesar de bem recente ter estreado como atriz, é coisa boa para ser vista. João Falcão é um bom diretor, que me atrai muito teatralmente. Adriana Falcão escreve bem. Felipe Hirch, da Sutil Companhia, possui grandes métodos de adaptação de obras para o teatro. Mário Bortolotto, de Londrina, mas que mora em São Paulo, da Companhia Cemitério de Automóveis, vale a pena ser visto sempre.
E no cinema brasileiro, quais nomes valem à pena serem citados? No internacional, preferências?
ARTHUR CURADO: No [cinema] brasileiro eu tenho atrizes prediletas, como a Fernanda Torres: assisto tudo que ela faz. Respeito muito José Eduardo Belmonte, porque escreve muito bem. Gosto de seus filmes, da maneira que faz. É meu cineasta brasileiro preferido. Gosto de muita coisa, como os clássicos [Pedro] Almodóvar, Woody Allen, Gus Van Sant [em âmbito internacional].
Um livro de cabeceira atual?
ARTHUR CURADO: Eu tenho lido “Cartas Para Alguém Bem Perto”, da Fernanda Young. Não é nem o último dela, mas é o que eu estou lendo.
Último filme visto no cinema?
ARTHUR CURADO: A última coisa que assisti no cinema foi Divã, com a Lilia Cabral. Ela é sensacional, assisto gratuitamente. Já tinha assistido à peça, gostei.
Você se graduou pela Casa das Artes de Laranjeiras – CAL, no Rio de Janeiro. O que te fez deixar Brasília para estudar teatro fora?
ARTHUR CURADO: Eu estava num momento da minha vida, querendo experimentar outras coisas. Ainda era moleque, tinha 19 anos. O intercâmbio foi uma experiência muito intensa. Quando voltei tive um pouco de dificuldade para me adaptar à minha casa e à cidade de Brasília. Eu tinha sido aprovado no vestibular da Universidade de Brasília (UnB), para o curso de Comunicação Social. Mas, mudei de ideia, queria outra atividade. Decidi fazer teatro e fui em busca da melhor escola do país: fui para o Rio de Janeiro.
Você já dirigiu, atuou e escreveu dez peças teatrais diferentes. Como você se enxerga perante o mercado teatral hoje em dia? Que tipo de profissional você acha que seu perfil se encaixaria?
ARTHUR CURADO: Tem gente que me chama de multimídia. Eu sou um ator. Minha formação é em Artes Cênicas. Então costumo dizer que me considero um ator; um ator que dirige, um ator que escreve, mas um ator.
A partir de suas experiências, qual a maior dificuldade enfrentada pelo teatro nacional hoje? Em Brasília isso é diferente?
ARTHUR CURADO: O teatro é muito suscetível às crises econômicas. Eu perdi vários patrocínios da minha nova peça por causa da crise mundial atual. Sempre que acontece algo do gênero, a primeira coisa que as pessoas cortam é o lazer – e eu entendo. Por mais que tentemos fazer um espetáculo mais barato, o lazer é sempre deixado de lado. Ficamos na corda bamba sempre que o país entra em recessão. Em Brasília, apesar do atraso no incentivo, o patrocínio, ligado ao trabalho de qualidade, acontece de forma mais fácil. Não que seja mais fácil, mas se torna mais fácil. E tem o público. Você cativa o público e a partir de então tudo o que você faz esse público vai assistir. Assistem por ser você que está fazendo, por te conhecerem.
O texto de Dois de Paus foi selecionado pelo Projeto Palco Giratório Brasil, sendo o único selecionado em âmbito brasiliense. Como foi a experiência? Você acha que a temática da peça influenciou em alguma parte da decisão?
ARTHUR CURADO: Acho que a temática influenciou. A temática, o sucesso. Nunca na história do Projeto Palco Giratório aconteceu de uma peça ter sessão dupla como ocorrido com Dois de Paus. E isso se deu devido ao espetáculo, à maneira de condução da peça. Mais de 40.000 pessoas assistiram ao nosso trabalho. Ter transformado a peça em romance, cinema, conhecer o país [a turnê passou por 40 cidades] e poder mostrar meu trabalho foi muito gratificante.
Você viajou por 40 cidades brasileiras apresentando Dois de Paus. Em alguma dessas cidades você ou Sérgio Sartório, parceiro em cena, enfrentaram algum tipo de preconceito pelo texto da peça? Como era a reação das pessoas ao espetáculo?
ARTHUR CURADO: Na verdade não, não enfrentamos problemas com preconceito. A gente teve, em algumas cidades, um certo incômodo da plateia, ao ver uma relação homoafetiva ser tratada de maneira tão normal. Como a gente era a única opção de cultura de algumas cidades de interior, por exemplo, as pessoas iam assistir à peça sem saber do que se tratava, sem nunca ter lido nada sobre, sem entender o trocadilho simples do título do espetáculo. A gente não teve problemas, mas sim uma estranheza, porque, querendo ou não, a história é muito urbana, trata de relacionamento que se inicia no meio virtual, com um linguajar de cidade grande.
O homossexualismo é um tema forte, mesmo neste suposto mundo cosmopolitano que vivemos. Qual a sua visão perante o assunto e a importância em discuti-lo?
ARTHUR CURADO: Na realidade eu acho que o assunto deve ser tratado de forma simples e sem tabus. Eu acho que é importante discutir todos os temas, quebrar preconceitos. É sempre válido. Muita gente veio falar depois da peça que nós os ajudamos a encarar a realidade de forma diferente. Ouvi depoimentos de mães dizendo compreender melhor os filhos depois que assistiram ao espetáculo. Muitos gays comentaram que, depois da peça, passaram a expressar seus sentimentos em público, sem o receio de antes. A peça nunca teve a intenção ou pretensão de quebrar barreiras. Mas, conseguimos. E isso é bom.
Como surgiu a ideia de escrever Dois de Paus?
ARTHUR CURADO: Em 2004, quando escrevi, passei por um exercício dado em sala de aula por uma professora. Precisávamos escrever uma história de amor sobre um casal. Escrevi. Era um homem e uma mulher, A e B. Nem nomes eu tinha dado. Quando chegamos em sala para discussão dos textos, concordamos que minha história poderia girar em torno de um casal homoafetivo. E então a ideia foi colocada em prática, gerando o texto da peça.
Vocês fizeram Dois Perdidos (2003), com texto inspirado em texto de Plínio Marcos e direção de Rachel Mendes. O que você achou da adaptação para o cinema feita pelo diretor José Joffily, com Débora Falabella e Roberto Bomtempo interpretando Paco e Tonho?
ARTHUR CURADO: O filme foi lançado na mesma época que estávamos viajando em turnê com a peça. O diretor do filme pediu para que a gente participasse de um debate, na época, sobre o filme, mas negamos. Ainda estávamos em cartaz com a peça e não queríamos assistir ao filme para não recebermos nenhuma influência. Depois de um tempo assisti. O filme faz uma boa adaptação do texto teatral para o cinema. Os principais pontos da peça estão lá. Transpor uma coisa em diálogos para um roteiro de cinema é uma viagem totalmente diferente. Eu achei muito bom, principalmente o roteiro.
Qual a relação que você enxerga entre as trilhas sonoras e os espetáculos que você se vê envolvido?
ARTHUR CURADO: Eu escolho a trilha. Quando escrevo o texto, já escrevo com a sugestão da música. Não que o diretor precise cumprir, mas eu já escolho antes. Eu penso a cena com uma música. Sou muito musical. Eu só amadureço as ideias durante o processo de ensaio. Eu tive dificuldade com o “Complexo de Cinderela” e com “História Redonda Sobre o Nada” [agora sendo montado em Buenos Aires]. Acho que a música é um ótimo condutor. Coloco sempre os atores para ouvirem à trilha da peça, os coloco no clima da produção para terem as sensações. Mas, eu uso pouca música, uso-as pontualmente. É trabalhoso, mas divertido de escolher.
O que você já pensou em fazer no palco que não deu certo? Existiu algum momento em sua carreira onde você decidiu jogar tudo pro ar?
ARTHUR CURADO: Não, agora não, teve uma situação antes de começar a vida profissional. Comecei a fazer teatro aos 7, 8 anos. Aos 15 fiz amador. Foram experiências legais. Quando fiz meu intercâmbio, me vi envolvido com publicidade e ao mesmo tempo teatro. Desisti da publicidade. Quando comecei mesmo como profissional, que considero ter sido aos 22 com “Dois Perdidos”, não tenho nenhum momento onde tenha jogado tudo pro alto. Tive erros sim, erros dramatúrgicos, erros de escolha de atores, de cenários. Mas coisas que fui aprendendo ao refazer. Como sou eu quem escreve normalmente os projetos que estou envolvido, então tenho a sorte de poder consertar, modificando o que não ficou bom.
Patrícia Marjorie, uma das atrizes de sua peça, já participou de outras montagens teatrais que você esteve envolvido. Como é trabalhar com pessoas que estão ou já estiveram ligadas ao seu trabalho?
ARTHUR CURADO: É ótimo. No teatro a gente precisa de parceiros sempre. E eu já encontrei bons parceiros. O Sérgio [Sartório], a Andréa Alfaia, que escreveu meu monólogo, e a Patrícia Marjorie, que é minha atual parceira. Ela tem sido minha assistente de direção, coordenado a produção, parceira de cenas. Gosto muito de trabalhar em duplas. Nossa equipe tem 28 pessoas trabalhando pro espetáculo funcionar. A Patrícia é uma atriz que se formou na UnB e não tínhamos trabalhado juntos. Concorremos aos mesmos prêmios, inclusive ao Palco Giratório Brasil. Mas, nos reencontramos e temos feito quase tudo juntos ultimamente.
Em recente entrevista [à Thales Sabino], você declarou que “Deveriam existir menos atores despreparados”. Em sua nova peça você está dirigindo duas atrizes que carregam grandes trabalhos e tempo de carreira. Como você encara isso?
ARTHUR CURADO: Eu acho ótimo trabalhar com gente que já tem história, que já tem prêmios nas costas, que já fez espetáculos ótimos. Mas existem muitos atores despreparados e isso acaba assustando a plateia e queimando a classe inteira. Então, minha declaração se trata disso. Os atores devem estudar, devem ter experiência para trabalhar mais e não pagar mico no palco. Não é uma crítica aos atores em geral. Os atores novos da nova montagem de “Dois de Paus” que estou fazendo são jovens, 20, 21 anos. Mas têm história. Já carregam uma bagagem, são estudados. Claro que aos 21 você não tem condições de ser o melhor ator do mundo, mas a experiência com eles está sendo bem legal. Eles mostram muita vontade de fazer o espetáculo – que estreia dia 8 de Agosto.
Qual a maior dificuldade que você encontrou com a nova montagem de “Complexo de Cinderela”, que estreia no dia 8, em Brasília? Qual sua maior expectativa?
ARTHUR CURADO: A maior dificuldade é que eu finalmente superei o complexo. As pessoas perguntam por que mudo tanto as coisas, os cenários, a trilha, os atores, a iluminação. Eu estava amadurecendo a ideia, do amor idealizado. Fui crescendo, fui criando um entendimento maior sobre o tema, e agora eu brinco que eu superei. Eu brinco que só preciso achar o meio de campo, para poder estender o assunto a todo mundo, defendendo as pessoas através destas duas personagens [da peça]. Como eu superei o assunto, esta deve ser a última versão da peça e quero que dure seis anos, com a mesma formulação que estrearemos sexta. Sempre riem muito do espetáculo, e saem muito tocados ao mesmo tempo. Quero comunicar com as pessoas.
Qual o tipo de público que você pretende atingir com o novo espetáculo?
ARTHUR CURADO: Eu sempre me surpreendo. Sempre aparece gente de todo tipo. As mulheres, claro, se identificam mais, porque damos uma sacaneada nos homens.
Muita gente resume o teatro brasileiro em Nelson Rodrigues. Quando muito, fala-se de Stand-Up Comedies, em alta no Brasil e peças sem vigor artístico, dramático. Quais os nomes do cenário teatral brasileiro que, pra você, foram e são importantes?
ARTHUR CURADO: Não vou citar os antigões, por serem óbvios, mas, no início da minha carreira eu fiz Nelson. Já está datado. Em Brasília temos Adriano e Fernando Guimarães, com conhecimento e reconhecimento nacional e internacional e um trabalho estético interessante. A Fernanda Young, uma das melhores pessoas do teatro, apesar de bem recente ter estreado como atriz, é coisa boa para ser vista. João Falcão é um bom diretor, que me atrai muito teatralmente. Adriana Falcão escreve bem. Felipe Hirch, da Sutil Companhia, possui grandes métodos de adaptação de obras para o teatro. Mário Bortolotto, de Londrina, mas que mora em São Paulo, da Companhia Cemitério de Automóveis, vale a pena ser visto sempre.
E no cinema brasileiro, quais nomes valem à pena serem citados? No internacional, preferências?
ARTHUR CURADO: No [cinema] brasileiro eu tenho atrizes prediletas, como a Fernanda Torres: assisto tudo que ela faz. Respeito muito José Eduardo Belmonte, porque escreve muito bem. Gosto de seus filmes, da maneira que faz. É meu cineasta brasileiro preferido. Gosto de muita coisa, como os clássicos [Pedro] Almodóvar, Woody Allen, Gus Van Sant [em âmbito internacional].
Um livro de cabeceira atual?
ARTHUR CURADO: Eu tenho lido “Cartas Para Alguém Bem Perto”, da Fernanda Young. Não é nem o último dela, mas é o que eu estou lendo.
Último filme visto no cinema?
ARTHUR CURADO: A última coisa que assisti no cinema foi Divã, com a Lilia Cabral. Ela é sensacional, assisto gratuitamente. Já tinha assistido à peça, gostei.
Contato:
Arthur Tadeu Curado - arthurtadeucurado@gmail.com
Site da peça "Complexo de Cinderela" - site da peça
8 comentários:
Lucas! Que bacana conhecer esse ator! Gostei muito do que ele falou sobre ele e as peças. Fiquei interessada, quero conhecer o trabalho dele.
E aliás... o SEU trabalho ficou ótimo! ;D
Eu percebi paralelamente um coisa... nossa, ele é muito parecido com VOCÊ! rs, os gostos, interesses... acho que vocês teriam muita conversa ainda pela frente!
:D Muito bacana o trabalho desse brasileiros, e melhor ainda é quando temos a oportunidade de conhecer, mesmo que por uma entrevista. ;D
Demais, hein? Adorei a matéria. parabéns a vc e ao Arthur.
Como assim a Daniela acha ele mto parecido com vc?
ME-DO!
:)
Ótimo trabalho!
Ficou excelente!
O Arthur representa o que há de melhor na nova geração teatral em Brasília. Ficar de olho nele e acompanhar seu trabalho é estar por dentro do suprasumo das produções locais.
Adoro os trabalhos dele. Acompanho tudo que ela faz.
Parabéns, Lucas. Parabéns, Arthur. A matéria ficou legal, boa de ler, flui bem. Gostei bastante!
Abraços
Nossa, muito interessante a entrevista. e longe de ser cansativa. Gostei muito mesmo. Não conhecia o trabalho dele, mas também me interessei em ver algo.
Enfim, parabéns, belo trabalho, primo :)
Obrigado, Lucas!
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